É a vontade de aproveitar um pouco mais a solteirice; a preocupação de
evitar gastos com um novo lar; o fato de que a fertilidade, para os
homens, se estende por um período maior na vida; as pressões familiares e
culturais sobre as mulheres. Ou tudo junto.
O fato é que o Censo
de 2010, que teve resultados detalhados divulgados na última
quarta-feira pelo IBGE, confirma um perfil social que origina um vasto
repertório de piadas e um tipo folclórico: o do homem solteiro que foge
da aliança como diabo da cruz, e “enrola” a namorada enquanto pode.
Num
país em que mais da metade (55,3%) da população é solteira, é na faixa
dos jovens adultos, entre os 20 e 29 anos, que está a maior disparidade
entre os gêneros: 53,6% dos homens nunca se casaram, percentual que cai
para 38,5% no caso das mulheres da mesma faixa etária.
"É
perceptível, as mulheres são mais carentes de relacionamento.
Principalmente quando vão chegando perto dos 30. Acho que elas têm mais
pressa, procuram mais estabilidade. Até pretendo me casar, mas antes dos
35, estou fora. Se é que dá para planejar isso", brinca o geógrafo
Thiago Chagas, de 28 anos, acrescentando o fator econômico. "Ainda moro
com meus pais. Quando dava aulas, dizia aos alunos: até o fim da
faculdade, cada um terá custado aos pais mais de R$ 1 milhão, por
baixo".
A frieza da análise dos números acrescenta outras
explicações. "De forma geral, culturalmente, para as mulheres ter marido
é visto como um capital, enquanto isso não ocorre com os homens. Além
disso, demograficamente, os homens têm mais escolha no mercado
matrimonial. Nascem mais homens, mas eles morrem oito anos antes, em
média. Somado a isso, culturalmente os homens tendem a casar com
mulheres mais jovens. O homem dos 20 aos 29 não está com a mulher dessa
faixa; quem está com a mulher de 20 a 29 são os das faixas acima, de 30,
40 anos. Com o tempo, isso continua e piora para a mulher; o homem de
60 está com a mulher de 45, não com a de 60 como ele", avalia a
antropóloga Mirian Goldenberg, da UFRJ.
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